O ceratocone é uma doença ocular crônica, degenerativa e de caráter progressivo, que torna a córnea mais frágil e fina, com formato semelhante a um cone. Com o tempo, o paciente perde a capacidade de enxergar com nitidez.
A doença acomete cerca de 150 mil brasileiros por ano, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, e se manifesta com maior frequência entre os 10 e 25 anos, podendo se estabilizar com o tempo ou prolongar-se aproximadamente até os 35 anos de idade
Uma das opções de tratamento mais eficazes para retardar a progressão do ceratocone é o crosslinking corneano, um procedimento que visa fortalecer a córnea e estabilizar a doença.
Neste artigo, você vai entender o que é o crosslinking corneano, como funciona esse procedimento e quais os benefícios dele para pacientes que enfrentam o ceratocone.
O que é o ceratocone?
O ceratocone é uma doença ocular degenerativa que provoca o afinamento e a deformação da córnea. A condição é de caráter progressivo e pode comprometer a visão de forma significativa ao longo do tempo.
A córnea é uma estrutura transparente localizada na parte anterior do olho, que pode ser comparada ao “vidro de um relógio”. Ela é responsável por proteger o restante do olho contra poeira e substâncias nocivas, além de regular a entrada da luz que é projetada na retina.
No ceratocone, a estrutura da córnea se enfraquece, fazendo com que ela se torne mais fina e adote um formato irregular de cone, o que altera a maneira como a luz entra no olho e atinge a retina, resultando em visão distorcida e borrada.
Esse formato de cone pode evoluir lentamente ao longo dos anos ou, em casos mais graves, progredir rapidamente.
A causa exata do ceratocone ainda não é completamente compreendida, mas estudos sugerem que fatores genéticos e ambientais têm um papel importante no surgimento da doença.
Entretanto, existem alguns motivos que podem contribuir ou acelerar o desenvolvimento do ceratocone, como:
- Histórico familiar de ceratocone;
- Coçar ou esfregar o olho com frequência;
- Possuir algumas condições alérgicas que instiguem a coçar o olho, como rinite alérgica, asma ou dermatite (alergia de pele);
- Ser portador da Síndrome de Down ou da Síndrome de Ehlers-Danlos.
Sintomas comuns do ceratocone
Os sintomas do ceratocone variam de acordo com o estágio da doença. No entanto, existem casos específicos em que o ceratocone não apresenta sintomas. Os sinais mais comuns da doença incluem:
- Desfoque da visão (que pode evoluir com o agravamento da doença);
- Aumento da sensibilidade à luz (fotofobia);
- Dificuldades para enxergar à noite;
- Dificuldades para realizar atividades rotineiras, como ler e dirigir;
- Visão dupla (diplopia);
- Surgimento ou aumento de miopia e astigmatismo;
- Troca frequente de óculos, já que a prescrição muda com frequência devido à progressão do ceratocone.
A importância do diagnóstico precoce
Mesmo sendo considerado uma doença crônica, ou seja, que não tem cura, o diagnóstico precoce do ceratocone é fundamental para o sucesso do tratamento.
Durante a consulta oftalmológica, o médico analisa o histórico médico e familiar do paciente, além de realizar alguns exames oculares para avaliar o estado do olho e da córnea.
Entre os exames mais comuns, estão a ceratometria (que serve para medir a curvatura da córnea), a paquimetria (que mede a espessura da córnea na área central), a tomografia de córnea (Pentacam) e, ainda, a topografia da córnea (ceratoscopia corneana), que mapeia a curvatura da córnea e é capaz de identificar deformidades no estágio inicial.
Quanto mais cedo o ceratocone é identificado, maiores são as chances de retardar sua progressão com tratamentos menos invasivos, como o crosslinking corneano.
O que é o crosslinking corneano?
O crosslinking corneano é uma das técnicas mais modernas e menos invasivas para tratar o ceratocone, evitar a progressão da doença e, consequentemente, a necessidade de intervenções mais agudas, como o transplante de córnea.
O principal objetivo do procedimento é fortalecer as fibras de colágeno que compõem a córnea e impedir que ela “entorte” para a frente, já que no ceratocone essas fibras tornam-se enfraquecidas.
Para isso, são utilizadas riboflavina (vitamina B2) e exposição à luz ultravioleta (UV), que juntas estimulam a criação de novas ligações químicas entre as fibras de colágeno da córnea, tornando-a mais resistente às forças deformantes que levam à progressão do ceratocone.
Existem dois tipos principais de crosslinking corneano:
- Crosslinking convencional (epi-off): envolve a remoção do epitélio (camada externa da córnea) para permitir melhor absorção da riboflavina antes da exposição à luz UV.
- Crosslinking transepitelial (epi-on): o epitélio não é removido, tornando o procedimento menos invasivo e mais confortável para o paciente, embora possa ser menos eficaz em alguns casos.
É importante ressaltar que ambos os métodos visam estabilizar a córnea e impedir a progressão da doença.
Como o crosslinking é realizado?
O crosslinking corneano é um procedimento simples, normalmente realizado em regime ambulatorial (o que significa que o paciente pode voltar para casa no mesmo dia) e com duração de cerca de 30 minutos.
Antes de iniciar o procedimento, o paciente recebe uma anestesia tópica em forma de colírio para garantir que o processo seja indolor. Dependendo do tipo de crosslinking, o epitélio da córnea pode ser removido (epitélio-off) ou preservado (epitélio-on).
Em seguida, o oftalmologista aplica uma solução de riboflavina (vitamina B2) na superfície da córnea, seguido da aplicação de luz ultravioleta controlada, por cerca de 5 a 10 minutos.
A combinação de riboflavina e luz UV desencadeia uma reação química que fortalece as fibras de colágeno da córnea, criando uma rede mais densa e resistente.
Ao final da operação, uma lente terapêutica é colocada no paciente até que o epitélio cicatrize. Após cerca de 7 dias, a lente é retirada.
O crosslinking é considerado um procedimento seguro e eficaz, com poucos riscos de complicações.
No entanto, como qualquer intervenção médica, o paciente pode sentir algum incômodo, como ardência, sensação de corpo estranho e lacrimejamento.
No entanto, esses sintomas são passageiros, e dentro de alguns dias, o paciente já estará apto a voltar às suas atividades cotidianas normalmente.
Benefícios e resultados esperados
O crosslinking corneano oferece uma série de benefícios para pacientes com ceratocone, pois ajuda a estabilizar a doença e evitar intervenções mais invasivas no futuro.
O principal benefício do crosslinking é impedir a progressão do ceratocone, evitando que a córnea continue a se deformar, o que é importante especialmente para pacientes em estágios iniciais da doença, onde a estabilização pode evitar a necessidade de tratamentos mais complexos, como o transplante de córnea.
Ao estabilizar a córnea, o crosslinking também contribui para a preservação da visão. Ainda que o procedimento não seja capaz de melhorar a acuidade visual por si só, ele impede que a visão se deteriore ainda mais.
Vale ressaltar que o paciente ainda poderá ter que usar óculos ou lentes após a realização da cirurgia, uma vez que o crosslinking não corrige erros refrativos (embora possa reduzir o grau de miopia e astigmatismo).
Quem é o candidato ideal para o crosslinking?
Nem todos os pacientes com ceratocone são candidatos ideais para o crosslinking. Existem alguns critérios que devem ser considerados antes de realizar o procedimento.
O crosslinking é indicado principalmente para pacientes com ceratocone em um estágio leve à moderado, que ainda tenham córnea transparente, com pouca ou nenhuma cicatriz ou estria na região.
Pacientes com córneas muito finas (menos de 400 micrômetros) ou com ceratocone muito avançado não são bons candidatos para o procedimento, pois o risco de complicações aumenta nesses casos.
Também devem fazer o crosslinking corneano aqueles pacientes que têm intolerância às lentes de contato, não apresentam estabilização da doença por meio do uso de óculos ou estão com astigmatismo alto em decorrência do ceratocone.
É importante ressaltar que o momento ideal para realizar o crosslinking é quando há evidências claras de que o ceratocone está progredindo.
Por isso, agir rapidamente após o diagnóstico é essencial para garantir que a córnea seja estabilizada antes que ocorra uma deformação significativa.
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